domingo, 25 de dezembro de 2011

Não se festeja mais Natal como antigamente...

Noite de Natal ... Imagina-se uma celebração em família, música natalina, crianças á espera dos presentes do Papai Noël... Mas não... As coisas mudaram.... E como mudaram... Essa noite toda a minha rua foi obrigada a ouvir música de péssima qualidade,  a todo volume, que uma família de "ocupantes" cuspia pelos potentes auto-falantes da radiola do carro estacionado com o porta- malas aberto na garagem deles. Muita cachaça e cerveja regava a "alegria" dessa turma que em nenhum momento abaixou o volume pensando na vizinha idosa e doente da casa em frente nem nas crianças das casas ao lado... As letras das músicas, de um primitivismo chocante ( "Bota na bochecha", "segura na varinha", "arranca minha calcinha"...) evidenciavam o nível intelectual dos festeiros. E dá-lhe de cerveja! "Beber até cair".
As quatro da manhã meu filho veio me dizer que não conseguia dormir. Claro! Eu também não conseguia. O som invadia a casa como se a radiola estivesse na minha sala. Eu pensava: será que eu vou ter que ir lá pra pedir pra eles abaixarem um pouco esse som? Por que os outros vizinhos não fazem isso? Ninguém reage?! Por que aceitam esse abuso de decibéis? Será que têm medo dessa gente? O rapaz do som ensurdecedor foi preso na semana passada por ter assaltado uma senhora usando uma faca em plena luz do dia. A senhora o reconheceu e veio com a polícia até a casa dele. Foi pego em flagrante com a faca e os pertences da vítima e levado algemado.  O rapaz só tem dezessete anos.
Há cinco anos eu venho percebendo que o rapaz estava bandiando pro lado errado. Sentia muito por ele. Lembrava dele ainda pequeno quando viemos morar aqui nessa casa. Já naquela época ele demonstrava um ladinho perverso... Naquela época nós o flagramos furando os pneus de todos os carros da rua com um canivete e a reação dele foi mandar meu marido tomar naquele lugar. Coitado! Não tinha educação e percebia-se que o nível de instrução dos pais dele também era redondo feito um fiofó. Mas era uma criança e o que eu poderia fazer era sempre que possível cumprimentá-lo com bons dias e boas tardes e falar sobre o tempo ou  "como vai na escola?"...
Baseada nessa relação de cordialidade que sempre mantive com ele , com a mãe dele, com o irmão e com a irmã, eu resolvi ir pedir a eles que abaixassem o som.  Eram quatro e meia da manhã. Destranquei minha casa e fui até lá. O som era realmente ensurdecedor. A radiola chegava a tremer. Ele, o irmão, o pai (que nunca me respondeu a um bom dia) e uma mulher que eu nunca tinha visto antes , estavam ali bebendo e movimentando o corpo numa espécie de dança de surdos. Quando o irmão dele me viu chegar já foi logo gritando comigo:
_ Ah não vem não que hoje é Natal!
_Justamen..., tentei dizer.
_ Não vem não! Eu tô na minha casa e faço o que eu quiser! me gritava ele na minha cara, eu do lado fora e ele do outro lado  do portão. ( a casa não é deles, eles moram e em troca tomam conta da casa para os verdadeiros donos).
Tentei dizer pra ele que o fato dele estar "na casa dele" também não dava a ele o direito de obrigar a vizinhança toda a ouvir a música dele. O som não estava mais só na casa dele. O bairro inteiro ouvia. Mas ele gritava e gesticulava como se fosse pular o portão e me bater.
Eu dizia: "moço,  não é porque é Natal que vocês têm direito de colocar o som nessa altura? São quatro e meia da manhã!". Ele gritava e dizia que eu fosse dar queixa na delegacia. 
A impunidade é tamanha que infratores fazem questão de mandar a gente procurar a justiça. 
Ele gritou tanto comigo que eu perdi as estribeiras e tentei puxar a orelha dele enfiando meu braço pela grade do portão. No que ele me ameaçou. Eu respirei fundo e antes de cometer uma insanidade, virei as costas e voltei pra casa decidida a ir á delegacia. Mas era noite de Natal! Tudo que eu queria era ficar tranquila em casa com meus filhos e meu marido que chegou na madrugada de ontem vindo de doze horas de ônibus de Parnaíba depois de cinco dias de trabalho intenso. Ele também não conseguiu dormir e hoje cedo, em pleno domingo de Natal, já foi pro batente levando turistas para Alcântara. 
Mas o carinha estava decidido dali pra frente a amanhecer o dia com o som nas alturas só para provar sei lá o quê. Pra mim só provou  sofrer da pior das doenças sociais: a ignorância.
E contra a ignorância não há remédio a não ser a adesão: a gente se fazer de ignorante também e aceitar a situação. Ah! Mas ai é tortura, é o mesmo que se violentar.
Tentei então fazer a minha parte e liguei para a polícia. A policial que me atendeu me confirmou que a lei do silêncio é válida também para as noites de Natal e que ninguém tem direito de perturbar a paz urbana. As seis eu liguei outra vez para a polícia. Me deram um número de protocolo.  Mas viatura alguma veio. O som rolou até as oito da manhã... daquele jeito ! no máximo! 
O rapaz  também ligou pra polícia e disse que eu o havia agredido e que eu era detestada pela rua inteira. Pra uns eu sou uma "vagabunda" que insiste que a rua fique limpa e que as pessoas só coloquem seus lixos na calçada perto da hora da passagem do caminhão que recolhe. Para outros meu problema é o mesmo: eu sempre peço que abaixem o som se isso estiver me incomodando muito. Para um outro eu sou intransigente porque  não o permiti colocar ferros de frente á minha casa para ele guardar uma vaga permanente para o carro da namorada. Outro porque eu não deixo que ele estacione a moto dele na minha calçada, que já é estreita. Moto não se estaciona em calçada! Eu já abri mão da vaga de frente á minha garagem por que eu não tenho carro. Mas ninguém entende que de frente a uma garagem não é permitido estacionar e que eu não tenho carro mas tenho o direito de usar minha garagem . Olha... é cansativo viver em um país onde o certo é errado e a ignorância impera. O que fazer? Eu sou brasileira e tudo que eu mais quero é ver meu país alcançar para um nível legal de sabedoria na convivência social onde as pessoas respeitem os direitos de cada um . Mas tá difícil ! Moral da história : eu deveria ter ficado na minha, mesmo sem conseguir dormir e no dia seguinte dar bom dia pro vizinho que me tirou o sono e que não hesitaria um instante em fazer isso todos os fins de semana. Agora eu tenho que conviver com o risco dele, ou da mãe dele (tão ignorante quanto ele) de me acertarem um "cascudo" como ela já anunciou bem alto para que eu e todos escutassem. Agora corro o risco de ser insultada a cada vez que eu passar pela porta da casa que eles ocupam. Onde está o erro? Eu devo aceitar que joguem o lixo nas ruas, que estacionem de frente á minha garagem, que coloquem a musica alta bem na minha janela que me impede ate´de ouvir minha televisão ou falar ao telefone ,que eu permita que me xinguem toda porque tem uma moto que estacionaram na minha calçada impedindo a passagem das pessoas e eu levar a culpa? Tem alguma coisa errada... "Sou eu o bárbaro", já dizia Rousseau. Pois nesse Natal, foi o "espírito  do porco" que baixou e não o espírito natalino!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A autoestima do Sarney


A cada dia o ego desse senhor desembesta. A cada dia ele tenta convencer o leitor de seu jornal de que ele e sua filha são os salvadores da pátria! Salvadores da pátria e do Maranhão! Tanto um quanto o outro devem muito aos Sarney. Sim! Muito! E como devem! Devem a alma, por não terem ambos se dado conta do quão  nefastas são essas pessoas e suas influências sobre a população. 
Eu sinto pena dele ... e dela... Dele porque é um homem eminentemente insignificante que conseguiu a proeza de se destacar em meio á política de um país que se deixou levar pelas circunstâncias. Aos oitenta e tantos anos, ele deve olhar para trás e sentir um calafrio danado percorrer suas entranhas, pois afinal sua vida toda foi baseada na mentira, na corrupção, na fome de poder, no vazio e no jogo infame para os quais são arrastados os homens que , no fundo de suas almas podres, sonham em ser reis, sem possuir a verdade necessária. Sinto pena dele , que talvez tivesse mesmo desejado ter sido artista ao invés de impostor.
Dela eu sinto pena porque foi criada por ele para ser o que ele queria que ela fosse: a filha do poderoso chefão, a mimada Roseana, do rosto carcomido pela acne impiedosa, a política sem estudos , sem vocabulário. A "filhinha do papai" , de um pai que traçou planos no submundo do poder subjugando amigos e adversários causando medo á gente mais humilde que o tem como homem letrado. Imaginem, até como membro da Academia Brasileira de Letras ele conseguiu se eleger! Mas isso são coisas de um país até ainda pouco , em sua maioria,  analfabeto.
Então, cheio de prepotência ele recusa os resultados de estudos de gente séria e competente. Para ele o IDH que apresenta o Maranhão diante do mundo inteiro "nada tem de valor". E vem, na maior safadeza, falar do PIB (produto interno bruto). Esse sim é que é um índice dos mais fictícios, pois a repartição da renda , todos nós sabemos, não é feita de maneira igualitária.
Em sua coluna "dominguada" , mais uma vez o José de Ribamar se coloca no papel de vítima ao rejeitar as críticas feitas ao Estado do Maranhão como unidade da Federação. A última! A mais miserável ! Ele tenta nos convencer de que essa situação é culpa dos outros políticos que conseguiram , á duras penas e graças ao voto do povo, chegar ao comando do estado. Diz que tentam a todo custo denegrir a imagem do Maranhão... Que os investidores estão abandonando o estado por causa do que andam dizendo sobre a miséria do Maranhão... Senhor Sarney, quem vem aqui sabe que a maioria da população é contra a sua oligarquia e não é possível mais tapar o sol com a peneira: a sujeira e o mau cheiro nas ruas de São Luis (espalhados por todas as cidades do interior desse estado) é reflexo do Índice de Desenvolvimento Humano do maranhense , sim senhor. Desenvolvimento esse que o senhor e sua família sempre mantiveram lá embaixo para poder vocês ficarem lá em cima, reis e donos do Maranhão. Não é uma cabeça de burro que está enterrada aqui e sim a autoestima do povo maranhense.
Infelizmente notei que aqui, as cabeças pensantes não podem muita coisa contra o senhor. A maioria me conta que nasceu aqui, cresceu jogando bola e mais tarde se divertindo de maneira mais ilícita com seus filhos. Os pais , com certeza,  devem favores ao senhor,  e por ai vai... Então... fica difícil, como bem disse a repórter do SBT, quando se tem o rabo preso. 
Eu faço questão de publicar sua coluna. É uma maneira das pessoas fazerem uma releitura do que o senhor escreve. É inclusive uma maneira de mostrar que como escritor o senhor é excelente picareta.
Mas isso não vem ao caso.  O importante é que a greve das polícias chegou ao fim. Quem sabe assim a imagem do Maranhão vai ganhar cara nova... quando as polícias colocarem atrás das grades os verdadeiros malfeitores desse Estado.

Presidenta Dilma, com todo o respeito: o Maranhão precisa respirar !

domingo, 4 de dezembro de 2011

Historiador desafia Sarney a testar 'imagem' nas ruas



O historiador Marco Antonio Villa, em artigo incisivo publicado hoje (29) no jornal O Globo, traça um perfil sem maquiagem do presidente do Senado, José Sarney, e o desafia a testar sua imagem caminhando sozinho pelas ruas das principais cidades do Brasil. Leia o artigo:
A face do poder: um retrato de Sarney

MARCO ANTONIO VILLA*
José Ribamar Ferreira de Araújo Costa é a mais perfeita tradução do oligarca brasileiro. Começou jovem na política, conduzido pelo pai. Aos 35 anos resolveu mudar de nome. Tinha acabado de ser eleito governador do seu estado. Foi rebatizado por desejo próprio. Alterou tudo: até o sobrenome. Virou, da noite para o dia, José Sarnei Costa. O Costa logo foi esquecido e o Sarnei, já nos anos 80, ganhou um "y" no lugar do "i". Dava um ar de certa nobreza.

Na história republicana, não há personagem que se aproxime do seu perfil. Muitos tiveram poder. Pinheiro Machado, na I República, durante uma década, foi considerado o fazedor de presidentes. Contudo, tinha restrita influência na política do seu estado, o Rio Grande do Sul. E não teve na administração federal ministros da sua cota pessoal. Durante o populismo, as grandes lideranças lutavam para deter o Poder Executivo. Os mais conhecidos (Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, entre outros), mesmo quando eleitos para o Congresso Nacional, pouco se interessavam pela rotina legislativa. Assim como não exigiram ministérios, nem a nomeação de parentes e apaniguados.
Mas com José Ribamar Costa, hoje conhecido como José Sarney, tudo foi – e é – muito diferente. Usou o poder central para apresar o "seu" Maranhão. E o fez desde os anos 1960. Apoiou o golpe de 1964, mesmo tendo apoiado até a última hora o presidente deposto. Em 1965, foi eleito governador e, em 1970, escolhido senador. Durante o regime militar priorizou seus interesses paroquiais. Nunca se manifestou contra as graves violações aos direitos humanos, assim como sobre a implacável censura.
Foi um senador "do sim". Obediente, servil. Presidiu o PDS e lutou contra as diretas já. No dia seguinte à derrota da Emenda Dante de Oliveira – basta consultar os jornais da época – enviou um telegrama de felicitações ao deputado Paulo Maluf – que articulava sua candidatura à sucessão do general Figueiredo – saudando o fracasso do restabelecimento das eleições diretas para presidente. Meses depois, foi imposto pela Frente Liberal como o candidato a vice-presidente na chapa da Aliança Democrática. Tancredo Neves recebeu com desagrado a indicação. Lembrava que, em 1983, em fevereiro, quando se despediu do Senado para assumir o governo de Minas Gerais, no pronunciamento que fez naquela Casa, o único senador que o criticou foi justamente Ribamar Costa. Mas teve de engolir a imposição, pois sem os votos dos dissidentes não teria condições de vencer no Colégio Eleitoral.
Em abril de 1985, o destino pregou mais uma das suas peças: Tancredo morreu. A Presidência caiu no colo de Ribamar Costa. Foram cinco longos anos. Conduziu pessimamente a transição. Teve medo de enfrentar as mazelas do regime militar – também pudera: era parte daquele passado. Rompeu o acordo de permanecer 4 anos na Presidência. Coagiu – com a entrega de centenas de concessões de emissoras de rádio e televisão – os constituintes para obter mais um ano de mandato. Implantou três planos de estabilização: todos fracassados. Desorganizou a economia do país. Entregou o governo com uma inflação mensal (é mensal mesmo, leitor), em março de 1990, de 84%. Em 1989, a inflação anual foi de 1.782%. Isso mesmo: 1.782%!
A impopularidade do presidente tinha alcançado tal patamar que nenhum dos candidatos na eleição de 1989 – e foram 22 – quis ter o seu apoio. O esporte nacional era atacar Ribamar Costa. Temendo eventuais processos, buscou a imunidade parlamentar. Candidatou-se ao Senado. Mas tinha um problema: pelo Maranhão dificilmente seria eleito. Acabou escolhendo um estado recém-criado: o Amapá. Lá, eram 3 vagas em jogo – no Maranhão, era somente uma. Não tinha qualquer ligação com o novo estado. Era puro oportunismo. Rasgou a lei que determina que o representante estadual no Senado tenha residência no estado. Todo mundo sabe que ele mora em São Luís e não em Macapá. E dá para contar nos dedos de uma das mãos suas visitas ao estado que "representa". O endereço do registro da candidatura é fictício? É um caso de falsidade ideológica? Por que será que o TRE do Amapá não abre uma sindicância (um processo ou algo que o valha) sobre o "domicílio eleitoral" do senador?
Espertamente, desde 2002, estabeleceu estreita aliança com Lula. Nunca teve tanto poder. Passou a mandar mais do que na época que foi presidente. Chegou até a anular a eleição do seu adversário (Jackson Lago) para o governo do Maranhão. Indicou ministros, pressionou funcionários, fez o que quis. Recentemente, elegeu-se duas vezes para a presidência do Senado. Suas gestões foram marcadas por acusações de corrupção, filhotismo e empreguismo desenfreado. Ficaram famosos os atos secretos, repletos de imoralidade administrativa.
O mais fantástico é que em meio século de vida pública não é possível identificar uma realização, uma importante ação, nada, absolutamente nada. O seu grande "feito" foi ter transformado o Maranhão no estado mais pobre do país. Os indicadores sociais são péssimos. Os municípios lideram a lista dos piores IDHs do Brasil. Esta é a verdadeira face do poder de Ribamar Costa. Como em uma ópera-bufa, agora resolveu maquiar a sua imagem. Patrocinou, com dinheiro público, uma pesquisa para saber como anda seu prestígio político. Não, senador. Faça outra pesquisa, muito mais barata. Caminhe sozinho, sem os seus truculentos guarda-costas, por uma rua central do Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília. E verá como anda sua popularidade. Tem coragem?
(Publicado em 29.11.2011, em O Globo)