domingo, 5 de outubro de 2008

Lixo : negócio da China !

Lixo: negócio da China ? Marilia de Laroche / 05.10.2008 Nesse sábado, como de costume, acordei cedo e fui comprar pão. Passando pela rua do Sol, ali bem na esquina com a praça João Lisboa, vejo o chinês do comércio da outra esquina saindo de sua loja com um saco de lixo na mão. Ele deu três passos e jogou seu saco aberto bem ao lado de um orelhão. Eu não acreditei! Não, eu só podia estar ainda dormindo e tendo um pesadelo! Como é que o sujeito joga seu lixo assim no meio da calçada pública, bem ao pé de um orelhão, na maior falta de respeito?! Sem contar que a lixeira estava a uns seis passos dali! Olhei para as duas senhoras que também achavam um absurdo, mas que nunca ousariam falar prô chinês que aquilo estava totalmente errado e que ele deveria jogar o lixo dele no lugar certo, e não agüentei: lá fui eu dar uma de Dom Quixote. Fui até a entrada da loja dele (eram sete e meia da manhã) e disse : _ Moço, o senhor viu que tem uma lixeira logo ali? Ele veio lá de dentro apagando um cigarro. _ Non, non, é ali lixo. _ Não, o senhor me desculpa, mas eu não posso acreditar, pois se tem uma lixeira logo ali adiante! Aqui onde o senhor jogou seu lixo está muito perto do orelhão. Olha aqui ó! – disse eu pegando o telefone pra mostrar prá ele como o lixo incomodava. _ Non, non. Aqui lixo! Eu joga lixo ali todo dia. _Quê isssso ! Como « aqui lixo »?! O lixo é ali! O senhor faça o favor de pegar seu lixo e jogar lá na lixeira! _Non, non! _Olha, moço, eu agora só saio daqui quando o senhor tiver colocado o lixo lá onde deve ser. Isso aqui é uma via pública, portanto é minha, sua, é nossa responsabilidade. A gente tem que contribuir e o senhor está sujando! _ Non, non! _Olha moço se o senhor não jogar agora eu vou acabar jogando esse lixo dentro da sua loja. Quer ver? Fui lá e peguei o saco de lixo. _ Vou chamar empregado da loja, ên? disse-me o chinês esticando o braço, me barrando o caminho. Voltou falando apoiado á um “empregado” da loja. Tive receio de que os dois partissem para a agressão, mas o asiático gritava para o empregado: _Vai levar lixo lá, vai! _ Mas foi você quem jogou! – eu me admirei. _Non, ele leva. Vai! _Eu não! Deixa isso ai mesmo, quê que essa mulher tem que se meter?! Disse o rapaz. _Vai jogar lixo lá, vai! _Num vô não! _Ah, não?! Então vocês vão ver! Ameacei jogar o lixo na loja. _Leva, leva! Gritava o chinês, quase batendo no empregado. Eu falava brava com ele, ele gritava bravo com o empregado. Enfim alguém veio lá do outro lado da rua e se aproximando dizia: _Leva logo esse lixo seu pôrra. Não fica criando caso. Tá errado mesmo jogar o lixo ai onde tu jogô. A mulhé tá certa. Vai jogar logo essa pôrra! Leva lá! Eu pensei que ele fosse acrescentar "leva logo pra gente ficar livre dessa chata!" - já vi muita gente virar o vilão só porque tentou melhorar alguma coisa. Para minha surpresa outras pessoas dizendo hêhém vieram em reforço pedindo ao funcionário do chinês pra colocar o lixo na lixeira. Este acabou cedendo e foi aplaudido. Até eu bati palmas. Fui embora, mas não sem antes explicar às pessoas que pararam para ver a cena, que se a gente não fizer nada e continuar se calando pra tudo, nós vamos continuar nessa situação descabida em que vivemos no Brasil: parece um país sem leis, sem respeito, sem educação. Três horas mais tarde eu passei por lá. Na foto vocês podem constatar que o orelhão estava ainda mais “ocupado”, de tanto lixo! Eu então deixo aqui mais esse testemunho: continuo recusando acreditar que seja normal que as pessoas venham descarregar sacos de lixo à sombra de orelhões públicos e da indiferença geral. mariliadelaroche@gmail.com MdL